As micros e pequenas empresas estão mais uma vez no alvo
da Receita Federal: ontem o Fisco lançou a Declaração
de Operações com Cartões de Crédito
(Decred), que será entregue pelas operadoras de cartões.
Com ela, o Fisco quer detectar focos de sonegação
de receitas movimentadas com cartão, principalmente entre
as pequenas.
Além disso, a Decred reafirma a nova política de
fiscalização da Receita: setorial, focada no comércio
e serviços e nas empresas de menor porte.
De acordo com o coordenador-geral de Fiscalização
da Receita, Paulo Ricardo de Souza Cardoso, os alvos da Decred
são as empresas que não registram as vendas de cartão
no Emissor de Cupom Fiscal (ECF), e os contribuintes com incoerências
entre renda e compras.
“O comércio e os serviços são o grande
foco da nova declaração”, revela.
O Conselho de Política Fazendária já estava
preocupado com a questão. Desde janeiro, as empresas estão
obrigadas a fazer a integração entre o ECF e a Transferência
Eletrônica de Fundos, para que todas as transações
com cartões sejam tributadas.
No entanto, devido ao custo da integração, a maioria
das micros e pequenas ainda não cumpriram a lei. Mas a
nova declaração do Fisco vai alcançar esses
valores.
“As micros e pequenas ainda não estão integradas.
Além disso, essa integração só ocorre
no comércio, os serviços escapam”, destaca
Cardoso.
Fechando o cerco
O objetivo do Fisco com a Decred é fechar
o cerco sobre os contribuintes e inibir a lavagem de dinheiro.
"Já temos dados de movimentação financeira
e atividades imobiliárias", lembra.
Os dados da Decred serão cruzados com os das outras declarações.
"Vamos selecionar suspeitos e fiscalizar", diz.
Cardoso não descarta a criação de mais declarações.
“Se constatarmos que um setor está praticando evasão,
vamos fechar as brechas”, adianta.
A declaração
As operadoras de cartões deverão
entregar, semestralmente, a Decred com dados mensais dos contribuintes
que tiverem compras feitas com cartão iguais ou superiores
a R$ 10 mil, no caso de empresas, e R$ 5 mil, para pessoas físicas.
Cardoso admite que esse valor pode ser alterado. “É
possível que o limite seja baixado para que obtenhamos
mais informações”, revela.
Os fiscais terão acesso aos dados das transações
dos titulares do cartão e dos estabelecimentos comerciais
que operam com plásticos. A privacidade será preservada:
“Não serão identificados os dados dos titulares,
nem o nome do estabelecimento para o qual foi feito o pagamento”,
diz.
As primeiras declarações deverão ser entregues
em 31 de outubro, e a multa pela não entrega é de
R$ 5 mil.
A Receita também está atuando no combate à
sonegação feita via paraísos fiscais, realizada
por grandes empresas. “É uma fiscalização
mais complexa, pois envolve diversos países, diplomacia
e acordos”, conclui.
Os cartões movimentam R$ 200 bi por ano, ou 20% do PIB;
cerca de 740 mil empresas operam com cartões no Brasil.