Falta de legislação própria prejudica combate a crime digital
Delegado da Polícia Civil de São Paulo, José Mariano Araújo,
critica inexistência de leis sobre o assunto no País.
O Brasil possui muitos entraves para combater os crimes
eletrônicos e segue na contramão de muitos países. Foi o que revelou
o delegado da Polícia Civil do Estado de São Paulo, José Mariano
Araújo, dia 23/06/2009, em entrevista à imprensa. “A falta de uma
legislação própria impede que cibercriminosos sejam punidos de forma
correta”, critica. “O que existe são artigos adicionados ao Código
Penal”.
Para Araújo, a não ratificação do País à Convenção de Budapeste
legislação que está sendo endossada por várias nações do mundo como
base de ação mundial de combate aos crimes cibernéticos complica
ainda mais as investigações da polícia. “Os criminosos não atuam
somente no Brasil. Eles possuem conexões fora”, ressalta.
O delegado cita uma operação que desbaratou quadrilha do mIRC
(programa de comunicação entre servidores, que funciona como canal
de bate-papo on-line), em que o Canal Brasil mantinha contato com a
Alemanha na troca de informações bancárias.
“Virou uma profissão para jovens que enxergam nos cibercriminosos
pessoas de sucesso, exatamente pelos ganhos financeiros que eles
obtêm com fraudes e desfalques a bancos pela internet”, conta
Araújo, que apresentou um levantamento da Polícia traçando o perfil
do cibercriminoso brasileiro.
Em geral, eles têm entre 24 e 33 anos (embora tenha crescido o
número de criminosos na faixa de 12 a 16 anos), são estudantes ou
operadores de sistemas, mudam constantemente de emprego, têm “QI”
acima da média, são do sexo masculino, bem vestidos e não acreditam
estar cometendo crimes.
O delegado José Mariano Araújo também criticou duramente as
operadoras de telefonia celular por atrapalharem a identificação dos
criminosos. Ele atentou ainda para a evolução do crime organizado
que tem atraído cada vez mais jovens hackers, financiando operações
ilícitas, entre as quais desfalques às operações on-line dos bancos.
“Como as penalidades são brandas, há casos de criminosos que mesmo
presos repassam o ‘know how’ a outros presos na cadeia”, lembra
Araújo, ao citar um cibercriminoso que chegou a ganhar 8 milhões de
reais com fraudes e crimes.
Segundo ele, o número de crimes pela Internet cresceu
exponencialmente nos últimos anos no País. De acordo com dados do
Centro de Estudos, Respostas e Tratamento de Incidentes de Segurança
no Brasil (Cert.br), até março de 2009 já foram registrados 218,074
mil incidentes reportados, enquanto no ano passado os casos chegaram
a 222,528 mil.
O projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo, que trata de crimes de
informática, está em tramitação no Congresso Nacional, mas ainda não
há previsão para que ele seja aprovado e entre em vigor.