Combate à sonegação de tributos favorecerá concorrência mais leal
entre as empresas
A sonegação de impostos, a informalidade das empresas e a
corrupção são alguns “gargalos” da economia brasileira. Não dá para
falar que a implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped)
vai acabar, num passe de mágica, com todos estes problemas, mas tem
forte potencial de auxiliar na redução da incidência de ações que
afetam diretamente os cofres públicos e a concorrência entre as
empresas. Isso porque a fiscalização on-line diminui a ida do fiscal
até a empresa e os casos de “vistas grossas” para irregularidades já
não serão mais possíveis. Será também mais difícil burlar o sistema
para pagar menos impostos, com a emissão de nota fiscal falsa ou
omissão de faturamento. E, por fim, o sistema fará automaticamente
todo cruzamento de informações trabalhistas, fiscais,
previdenciárias, tributárias, entre outras, o que também
desestimulará a economia informal.
Esta é a expectativa de vários atores envolvidos na implantação do
Sped. O presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado
de São Paulo (CRC-SP), Claudio Filippi, lembra que a grande
expectativa com a entrada em vigor de todas as etapas do novo modelo
de escrituração contábil e fiscal é que haja uma redução
significativa de fraudes, sonegação e demais pontos que levam à
concorrência desleal entre as companhias brasileiras e estrangeiras
que atuam no País. “O sistema trará uma concorrência mais leal entre
as empresas e, certamente, o aumento da arrecadação espontânea, já
que mais companhias vão atuar dentro da formalidade”, avalia José
Alberto Maia, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e
Emprego.
Ele conta que uma estimativa feita pelo ministério com base nas
diferenças constatadas entre as informações enviadas pela guia de
recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e de
informações à Previdência Social e a folha de pagamento constatou um
rombo de R$ 20 bilhões nos cofres públicos só em 2012. “Isso não
significa que houve sonegação fiscal ou fraude, já que foram as
próprias empresas que mandaram as duas informações, mas mostra que o
modelo antigo não era nem simples nem seguro para as próprias
companhias”, considera o auditor fiscal ao comentar que com o
eSocial este tipo de problema vai deixar de ocorrer.
Economia informal
E o impacto negativo para os cofres públicos não para aí. A
chamada economia subterrânea que é a produção de bens e serviços não
reportada ao governo, ou seja, que fica à margem do Produto Interno
Bruto (PIB) representou, no ano passado, cerca de 16% da economia
brasileira, ou aproximadamente R$ 760 bilhões, movimentados sem que
houvesse o pagamento de impostos ou de direitos aos trabalhadores,
além de outras consequências. “Subsistemas do Sped que já foram
implementados, tais como a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), Sped
Contábil, Sped Fiscal, EFD Contribuições, que trouxeram o universo
fiscal, contábil e tributário das empresas para a era digital, já
causam efeito na questão da concorrência, redução de fraudes e
sonegação fiscal”, avalia Oziel Estevão, diretor titular adjunto do
Departamento Jurídico da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp).
Além disso, Geuma Campos Nascimento, sócia da Trevisan Gestão e
Consultoria (TGC), lembra que a sonegação no Brasil gira em torno de
30%. “Esse sistema trará mais transparência à relação do
contribuinte com o Fisco e, consequentemente, leva também à
concorrência mais leal entre as empresas”, considera.
Embora esse seja um aspecto pouco ressaltado em relação ao Sped,
Geuma lembra que a “assertividade e agilidade” do sistema chegou
inclusive aos contribuintes não abrangidos pelo novo modelo de
escrituração digital. Isso porque todas as informações serão
cruzadas e monitoradas com maior facilidade.
“O Fisco vai enxergar, em tempo real, o que está acontecendo na
empresa, e isso levará a uma redução significativa da sonegação
fiscal”, prevê Vitor Almeida, sócio RH da consultoria BDO. Para ele,
as companhias que agem à margem da lei e que, com isso, conseguem
uma vantagem competitiva, concorrendo de forma desleal com as demais
empresas, serão as mais afetadas pela sistemática digital de
escrituração fiscal. “Com certeza, o preço dos produtos e serviços
das empresas será nivelado de forma semelhante, e isso vai acabar
com a concorrência desleal”, o sócio RH da BDO.
Fonte: DCI – SP |