Para neutralizar a pressão de empresários e confederações patronais
pelo fim imediato da multa adicional de 10% sobre o saldo do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), em demissões sem justa
causa, o Palácio do Planalto já negocia com líderes da base aliada
no Congresso um plano B. A proposta é um novo projeto de lei
complementar para escalonar a cobrança de forma a eliminá-la em
quatro anos. A presidente Dilma Rousseff foi consultada e autorizou
sua equipe a prosseguir no debate.
Criada em 2001 para cobrir um rombo decorrente de decisões
judiciais sobre os planos econômicos Verão e Collor, a multa
adicional irriga os cofres do governo com R$ 3 bilhões anualmente.
Desde julho do ano passado, o objetivo que motivou a criação da
cobrança foi atingido e o recurso deixou de ir para os cofres do
FGTS, passando a servir, na prática, para inflar o superávit
primário. O governo argumenta que a arrecadação extra permite manter
investimentos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
A Câmara aprovou, no mês passado, o fim da cobrança a partir de
1.º de junho de 2013. A presidente aproveitou o argumento da
retroatividade e vetou integralmente a proposta. O tema, porém, tem
forte apoio na base por interessar a grandes grupos empresariais, e
o governo sabe que terá dificuldade de manter a decisão,
principalmente diante das turbulências na base. Para derrubar o veto
é necessário ter 257 votos na Câmara e 41 no Senado, o que os
defensores do fim da cobrança acreditam conseguir.
A proposta de escalonamento é vista como a única forma de
convencer os aliados a não retirar de forma abrupta os recursos dos
cofres federais. O governo já tentou vincular por lei os recursos ao
programa Minha Casa, Minha Vida, mas não conseguiu sequer aprovar a
urgência da proposta.
Aceita pelo Congresso a ideia de diluir o prejuízo, Dilma
perderia menos de R$ 1 bilhão no próximo ano e deixaria o maior
problema para seus sucessores. "Acho que tem viabilidade. Vamos
tentar bater o martelo na semana que vem. Se conseguirmos um acordo,
dá para manter o veto e votar um projeto rapidamente", disse ao
Estado um dos parlamentares que negocia com o Planalto.
''Sem negócio''
Um dos articuladores da derrota do governo na Câmara, o líder do
PSD, Eduardo Sciarra (PR), diz não haver condições de aceitar a
proposta. "Ouvi esse comentário de uma proposta nestes termos, mas
com a gente não tem negócio. É uma questão conceitual, queremos o
fim do imposto, que já cumpriu sua finalidade. Somos contra a alta
carga tributária do País." Ele espera que o veto seja colocado em
votação na sessão do Congresso convocada pelo presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), para o dia 20 de agosto.
A demissão por justa causa já obriga os empresários a pagar uma
multa de 40% sobre o saldo do FGTS, que vai para o bolso do
trabalhador. Numa tentativa de ajudar o governo, o líder do PMDB,
Eduardo Cunha (RJ), propôs que o adicional de 10% seja mantido e
crie uma poupança para ser sacada pelo trabalhador no momento da
aposentadoria. A proposta, porém, não encontrou ressonância na Casa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo