Posso dizer desde já que sempre que escrevo sobre Internet e aparelhos
digitais, meu tom de discurso caminha para o lado mais preocupado,
para dizer o mínimo. Mas, como minha esposa pode atestar
rapidamente, nem sempre eu pratico o que prego. Para mudar isso, eu
criei uma lista de disciplinas digitais que eu tentarei levar a
sério.
Claro, eu não acho que todos esses pontos são aplicáveis
universalmente. Eles podem soar completamente inviáveis para seu
estilo de vida, ou em alguns casos podem apenas parecer
desnecessários. Tudo que eu quero com eles é simples: dadas minhas
prioridades e minhas circunstâncias de vida, eu considero bem útil
articular e implementar essas formas para deixar minha relação com a
cultura da Internet bem mais saudável.
Eis a lista.
Não acorde direto na Internet. Tome um café da manhã, passeie com
o cachorro, leia um livro/revista/jornal… Tanto faz, faça alguma
coisa antes de ficar online. Pense nisso como uma forma de se
preparar – fisicamente, mentalmente, emocionalmente, moralmente etc.
– para o que lhe aguarda na rede.
Não fique conectado de forma natural e ambiental à sua conta de
e-mail. Feche o app ou a aba de seu e-mail. Cheque-o duas ou três
vezes por dia por pelo menos um tempo. O mesmo se aplica ao Facebook,
Twitter e outras redes que usamos demais.
Fique com aquele link bacana na cabeça por algumas horas ou até um
dia antes de compartilhá-lo por aí. Se depois de algum tempo de
reflexão ele não tiver o mesmo impacto, ele não merece ser
compartilhado. Não colabore com o excesso de ruído.
Não faça refeições junto com a Internet. Desligue, deixe os
aparelhos para trás (ou no bolso), e aprecie a comida como uma forma
de se regenerar, mental e fisicamente. Se você passa o dia dentro de
algum lugar, leve seu almoço para fora. Aprecie a companhia de
outras pessoas, ou aproveite o momento para sentir como alguns
minutos de silêncio sepulcral podem ser bons.
Respire. Sério.
Faça uma coisa – uma só coisa, uma coisa completa – por vez, seja lá
o que for. Se for para escrever um e-mail, escreva-o de uma vez. Se
for para ler um artigo, devore-o. Se uma tarefa não pode ser
completada em uma temporada na frente do computador, pelo menos
trabalhe um bom tempo suficiente nela, sem nenhuma interrupção. Em
outras palavras, resista à tentação do mito do multitarefa. Ele é o
canto da sereia de nossa geração, e pode transformar seu cérebro em
um Titanic partido ao meio.
Limpe e zere seu feed de RSS no fim de cada dia. Se as coisas não
foram lidas, vida que segue. Essa é difícil para mim: eu quero ler
tudo, ficar sabendo de tudo etc. Mas se eu não limpar o feed, eu
termino o dia com uma pilha de informação em proporções impossíveis
de lidar. Além disso, eliminar potenciais e interessantes itens não
lidos ou consumidos todos os dias é um gesto de felicidade, algo
como uma libertação catártica.
Desligue todas as notificações que ameaçam lhe interromper ou
distrair. Mentalmente, tendemos a responder às notificações com uma
impulsão Pavloviana. Emocionalmente, elas são nossas pequenas
versões do farol verde de Gatsby. De qualquer forma, é um hábito
horrível.
Desligue seus aparelhos quando estiver com seus amigos. Além disso,
abaixe a tela de seu laptop quando estiver falando com alguém. Isso
pode soar exótico, antiquado, nostálgico, grosseiro, tanto faz. Mas
eu vejo isso mais como uma forma de me manter minimamente civil e
decente, mesmo que eu não esteja recebendo a mesma decência e
civilidade em troca. Se você precisa atender uma ligação ou
responder uma mensagem de texto, deixe isso claro de forma polida e
educada. Muito melhor do que pegar seu aparelho de forma sorrateira
e ficar olhando de canto de olho para a tela enquanto finge que
ainda dá sinais de prestar atenção. Isso é inútil e feio, e todo
mundo sabe disso.
Faça logoff nos sites de redes sociais após visitá-los. O passo
extra de fazer login diminui sutilmente a facilidade em abri-los
quando a sede por distração surge. Não subestime o poder dessas
pequenas lombadas digitais.
Não vá para a cama com a Internet. De novo, sério.
Anos atrás, Umberto Eco disse: “Nós gostamos de listas porque nós
não queremos morrer”. Talvez isso seja um pouco melodramático demais
para essa lista. Certamente não há nenhum caso de vida ou morte nos
11 pontos, espero. Mas eu realmente acredito que seguir estas
disciplinas digitais melhorarão meu uso de Internet, e farão com que
eu tenha mais prazer vivendo nela.
Fonte: GIZMODO |